A greve da Polícia
Militar da Bahia, que assustou o Brasil e parte do mundo interessada em brincar
seu carnaval, chamou mais uma vez a atenção para as condições de trabalho a que
são submetidos os profissionais desta área no país.
Segundo o
professor José Vicente Tavares dos Santos, da UFRS, (http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,mais-uma-para-ficar-na-historia,834526,0.htm), o Brasil perdeu
a chance de discutir suas polícias na Constituinte de 1988 e agora paga o preço
de uma crise organizacional do sistema de segurança pública, e acrescenta que
há enorme dificuldade do poder público e da imprensa de reconhecer a
legitimidade dessas mobilizações como luta social de uma categoria por melhores
condições de vida.
As greves mostram
que estes profissionais estão se sentindo desrespeitadas nos seus direitos de
cidadãos e trabalhadores.
Que o país
precisa urgentemente discutir um novo modelo de segurança pública, um novo
modelo de polícia, não é apenas opinião dos profissionais de segurança pública,
como também dos acadêmicos que se dedicam ao tema, a exemplo do próprio
Professor José Vicente (RS) e dos Professores Marcos Rolim (RS), Paulo Neves (SE),
Luiz Eduardo Soares (RJ), Cláudio Beato (MG), entre tantos outros. Mas como
dependemos, e isso é natural num estado democrático de direito, dos políticos,
que fazem tanto o Legislativo como o Executivo, para concretizar tais mudanças,
vamos nos concentrar nestes últimos para apresentar algumas idéias.
É sabido que “a
corrupção espalhou-se pelo país a partir do péssimo exemplo emanado das altas
esferas de nossa vida pública, introduzindo seus tentáculos também no interior
dos aparelhos de segurança, implantando um cenário de caos e descontrole.”
Diante das
“graves deficiências das corporações policiais” populações inteiras ainda vivem
sob o manto “da insegurança e do medo” impostos pelos traficantes e pela
banalização da violência.
“É urgente –
inadiável – dar um vigoroso basta a tal situação!!”
Precisamos
“devolver aos cidadãos de nosso país o sagrado direito democrático à segurança
pessoal, familiar e comunitária”
“As propostas a
seguir não possuem coloração partidária, nem credo ideológico”, tem a intenção
de “convocar uma amplíssima unidade nacional para enfrentar um inimigo comum: a
violência.”
“O atual modelo
dualizado de polícia, como instituições policiais de ciclo incompleto, está
esgotado.”
Uma mudança no
sistema de segurança pública, mormente nas polícias, “depende,
fundamentalmente, da vontade política dos governantes”. As mudanças mais
profundas, que demarcarão o “fim do modelo de polícia criado nos períodos
autoritários, exigem o estabelecimento de um novo marco legal para o setor de
segurança”. As polícias estaduais de “ciclo completo, produtos do novo marco
constitucional, tem como base o Sistema Único de Segurança Pública”.
É fundamental
que “o novo modelo seja subordinado ao poder civil”, com polícia de ciclo
completo, com as seguintes mudanças: (1) extinção dos tribunais e auditorias
militares estaduais; (2) Lei Orgânica Única para as polícias estaduais; (3)
desvinculação entre as polícias militares – enquanto reserva – e o Exército;
(4) investigação preliminar sem indiciamento; (5) ESTABELECIMENTO DE VENCIMENTO
BÁSICO NACIONAL PARA AS POLÍCIAS; (6) órgãos periciais autônimos e (7)
Ouvidorias de Polícia autônomas e independentes.
Estas idéias foram
apresentadas pelo candidato a Presidente da República Luiz Inácio LULA da
Silva, através do Instituto Cidadania, em seu Projeto de Segurança Pública para
o Brasil, em 27 de fevereiro de 2002, e as vésperas de completar 10 anos, embora
bastante atuais, poucas delas foram efetivamente implementadas.
Antes de ser
acusado de plágio, as frases entre aspas são do próprio LULA, escritas na
apresentação do referido Projeto.
Nos dois
governos de LULA, o investimento em segurança, através do PRONASCI, mudou para
melhor a realidade das polícias em relação a equipamentos e armamentos, todavia
não obteve êxito na redução dos índices de homicídios, nem foi capaz de atender
aos anseios dos policiais no que concerne às condições de trabalho (incluindo
aí, salários). Essa é a prova que implementação de políticas públicas deve
andar de mãos dadas com valorização profissional, aliando as duas, a gestão de
excelência.
Encerrada a era
LULA, as discussões sobre as necessidades de mudanças das estruturas das forças
policiais não foram sequer iniciadas.
Fomos buscar nas
palavras de um dos maiores líderes de nosso país, a necessidade da mudança do
sistema atual de segurança pública, porque esta crise não é “privilégio” dos
governos do Rio e da Bahia, mas de todos os governos, de todas as esferas de
poder.
Não acreditamos
que com o fim da greve da Bahia e com a prisão dos líderes de associações do
Rio a crise tenha acabado. O máximo que conseguirão é adormecer esta luta
social, e não por muito tempo.
Há estados, como
Sergipe, que avançaram em relação às remunerações dos profissionais de
segurança pública, principalmente em relação à Polícia Civil, ficando algumas
questões pontuais nesta seara a serem resolvidas, todavia há que se reconhecer
limites em relação à gestão, que dificultam implementações de políticas de
segurança.
Não precisam nos
dizer o que fazer para melhorar a segurança pública (onde nasce o sol), sabemos
(profissionais e sociedade) a resposta.